Artigo Alexandre Pierroni: O gigante que nunca despertará
Claude Lévi-Strauss, antropólogo e filósofo francês, andou pelo Brasil na década de trinta lecionando na Universidade de São Paulo, USP. Depois escreveu Tristes Trópicos, um clássico das ciências sociais, onde profetizava que o Brasil seria um país que passaria da barbárie a decadência sem conhecer o apogeu. Lévi-Strauss tinha toda razão.
Depois do histórico voto do juiz Celso de Mello aceitando os embargos infringentes, nada aconteceu no país. E nada acontecerá, assim como nada nunca aconteceu.
No Brasil, o país do compadrismo, tudo tem que ser julgado de maneira “ponderada”, sem pressa, pensado e repensado, longe do clamor das multidões. Afinal, a nossa justiça, lenta e segura, esta aí para isso mesmo. Para evitar que os poderosos de plantão, apesar de condenados por delitos graves, sejam incorporados à população carcerária.
E como se fora pouco, agora vem o Supremo Tribunal Federal, sempre amparado na Lei, soltar o Zé Dirceu, que foi condenado no “Mensalão”, por corrupção e com má fama pública e notória.
Prevendo isso, bem que os responsáveis pela operação “Lava Jato” tentaram correr, apresentando uma nova denúncia, provando que ele continuava recebendo propina, mesmo depois de tantos escândalos.
Mas esta nova denúncia apresentada pelos procuradores, foi considerada por Gilmar Mendes como uma manobra que pretendia constranger o Supremo Tribunal de Justiça, e a classificou como uma brincadeira quase juvenil.
A justificativa de Gilmar Mendes para ter libertado José Dirceu, mesmo ele tendo sido condenado no processo do “Mensalão”, tendo sido condenado pelo juiz Sérgio Moro, é que ele ainda esperava uma confirmação da condenação em segunda instância, e por isso a prisão dele era um constrangimento ilegal.
Só que este ministro se esqueceu que existem 221.000 presos na mesma condição do réu famoso e bem relacionado, a maioria foi presa sem nem ao menos ter sido ouvida por um juiz.
O relator do caso, ministro Edson Fachin, votou pela manutenção da prisão de Dirceu, no sentido de que a prisão preventiva pode ser usada para interromper ou diminuir atuação de uma organização criminosa, pois o Juiz Sérgio Moro apontou indícios concretos de reiteração delituosa, e que a complexidade dos casos permite alongamento das prisões.
Assim temos o pobre Brasil, propagado como “O País do futuro”, ao contrário do que Lévi-Strauss profetizou, um gigante adormecido, mas deitado eternamente em berço esplêndido, sem nunca ter acordado do sonho de um dia ser grande e justo.
Alexandre Pierroni é Veterinário há 20 anos em São Roque, Vereador e Secretário da Comissão Permanente de Saúde e Educação da Câmara Municipal.